Adiar é uma atitude bem comum, principalmente se a tarefa for desagradável.

Quem já não adiou uma visita ao dentista, o início de uma dieta, uma faxina?

Scarlett O´Hara, de “E o Vento Levou“, sempre que enfrentava grande dificuldade, dizia “Amanhã eu penso nisso“. Essa decisão parece trazer um alívio, mesmo que temporário, do tipo “sei que preciso enfrentar, mas por enquanto me livro disso e posso focar a atenção em algo mais prazeroso…”

Fernando Pessoa tem um poema chamado “Adiamento”, do heterônimo Álvaro de Campos, que começa assim: “Depois de amanhã, sim, só depois de amanhã…” Sim, deixar para um dia mais à frente é bem melhor.

Interessante também a famosa plaquinha “Fiado só amanhã”, em que a criatividade se mescla a segundas intenções.

Num início de ano, propus que meus alunos do Ensino Médio escrevessem um texto sobre suas metas, seus objetivos para o futuro. Então o guardariam para conferir, mais tarde, se ainda se mantinham fiéis a esses sonhos e projetos. Produziram boas redações, criativas, algumas engraçadas, mas, lembro-me bem de uma em que a autora fez uma lista de tudo que pretendia realizar ou obter: amizades, diversões, viagens, namoro, estudos, universidade, bom emprego, dinheiro, casamento, filhos… Terminava mais ou menos assim: “Quando eu conseguir tudo isso, serei feliz.”

Como é possível? Observando e ouvindo pessoas, percebi que não é raro o fato de se projetar a felicidade no futuro.

Parece a regra da Rainha Branca, no livro Alice no País das Maravilhas: “Geleia amanhã e geleia ontem… mas nunca geleia hoje!” E o Carpe diem (colha, aproveite o dia) como fica?

Encantou-me o provérbio chinês: “O passado é história, o futuro é mistério, o agora é uma dádiva, por isso se chama presente”. Fez-me refletir nesse adiamento, nem sempre recomendável (às vezes até condenável) direcionado pelo consumismo, pelo desejo de ter, de acumular bens.

Talvez não precisemos de tanta coisa para ser feliz hoje mesmo. Afinal, o presente está à nossa disposição. Por que, então, adiar?