Compro uma casa ou moro de aluguel?

Algumas crendices não fazem nenhum sentido.

Por mais arraigadas que sejam.

Se havia uma crendice em mim – esta bem pessoal – era que ser adulto é um privilégio, porque se sabe tudo. Aí vêm os 20, os 30, os 40 e o que vai aumentando mesmo é o seu grau de humildade diante de tanta coisa que, você nota, nunca chegará ao seu conhecimento.

Um tema que nunca chega a nós, por exemplo, é o dos impactos financeiros na nossa vida pessoal. Não falo de MBA em finanças nem de complexas e robustas análises do comportamento do capital ao longo do tempo, ou de qualquer outra coisa que espante os traumatizados de matemática.

Falo mesmo é da simples educação financeira, que qualquer indivíduo deveria ter o direito de ter para tomar decisões mais sábias. Ou, pelo menos, mais conscientes.

Já que ninguém me ensinou, fui aprender sozinho. E logo vi que outra crendice – esta bem popular – também não fazia nenhum sentido: somos condicionados a conseguir um emprego à la CLT e a comprar um carro e uma casa. E tratamos de arranjar isso já no começo da nossa vida profissional.

Mal sabemos, porém, que essa decisão é o que atrapalha o crescimento do nosso patrimônio. Se estamos no começo da vida profissional, não temos dinheiro para comprar o apartamento. Então recorremos ao financiamento. E assim assinamos o contrato que nos endivida com o banco – e condiciona toda nossa vida adulta.

As pessoas passam 30 anos pagando o financiamento da casa. Ao invés disso, por que não pensar em ficar 30 anos construindo o patrimônio?

Imagine o cidadão que decidiu financiar com o banco o valor de R$ 348 mil, pelos tais 360 meses (30 anos) a uma taxa de juros de 9,78% ao ano. Ele entrou no sistema mais frequente de financiamento de casa, o chamado SAC – Sistema de Amortização Constante. Durante 30 anos, a cada mês, ele vai pagar uma quantia inalterável para amortizar o financiamento e mais uma quantia para pagar os juros desse financiamento.

As prestações vão diminuindo ao longo do tempo, e isso ocorre porque ele paga a maior parte dos juros no começo, ficando para o final a maior parte em amortização:

 

Juros + amortização = prestação da casa própria
No começo  >  Juros chegam a 75% do valor da prestação
No final  >  Amortização chega a 99% do valor da prestação

 

As prestações ficando menores nos dão um sentimento equivocado de conquista: a falsa sensação do “está quase acabando”. Pois bastam algumas prestações não pagas – quem é que nunca será demitido na vida? – e o banco pode decidir cancelar o contrato. Dinheiro perdido e sonho acabado.

Mas, supondo que o indivíduo conseguiu passar brilhantes 30 anos pagando regiamente cada prestação sem nenhum atraso ou solavanco no meio do caminho, ele terá pagado a quantia de R$ 840 mil.

Isso mesmo!

Para que o banco lhe emprestasse R$ 348 mil, o indivíduo pagou R$ 840 mil.

São duas vezes e meia a mais: pelo preço de um apartamento, o sujeito poderia ter comprado 2 apartamentos e mais uma quitinete!

E desses R$ 840 mil, quase 60% foram juros puros…

Ter a casa própria é uma decisão pessoal. Ou familiar. Há pessoas que gostam de ter a casa definitiva assim que se casam, porque ali formarão sua família. Mas, pelo preço que essa casa passa a custar quando financiada, eu não teria problema em aplicar o valor dessas prestações em bons produtos financeiros e, só depois de alguns anos, comprar minha casa com o dinheiro à vista. Sem juros, sem acréscimos, sem dívida – e por um preço substancialmente menor.

Prefiro jogar fora as crendices. As minhas e as populares.

No próximo texto, mostro o patrimônio de 3 indivíduos que fizeram suas escolhas ao longo da vida: um que usou todo seu dinheiro para comprar sua casa; outro que preferiu morar de aluguel para investir todo seu dinheiro em bons produtos financeiros; e outro que, com o sonho da casa própria e sem dinheiro, decidiu financiá-la.