Ontem me olhei no espelho com atenção e vi rugas. Péra. Oi?

Justo eu, que sempre me orgulhei da cútis de pêssego geneticamente herdada de uma tia-avó cujo rostinho parece de porcelana até hoje, aos mais de oitenta e trá-lá-lá. Eu, que até pouco tempo atrás cantava aos quatro ventos a alegria de nunca ter precisado de BB-cream. Eu, que gostava de ignorar recomendações dermatológicas óbvias para uma branquela que nunca – eu disse nunca – conseguiu mais que 10% de magenta na pele nas vãs tentativas de bronzeamento juvenis.

O máximo de cor do pecado que obtive foi um vermelho desgraçado e ardido depois de usar aqueles óleos tão melequentos quanto inúteis para alguém que não passou na fila da melanina como eu.

 O espelho: aquela hora básica da verdade

O que me levou a olhar pro espelho com tanta atenção? Minha filha.

Ela estava no meu colo brincando. De repente, algo em minha testa a intrigou.

Veio olhar mais de perto, com cara de ué. Pensei que pudesse ser alguma folha de árvore, mas estávamos dentro de casa.

Torci para que fosse uma sujeirinha qualquer, maquiagem malpassada, sei lá. Tudo menos rugas. E eram rugas.

Não sou a louca dos anti-idade. Tenho 33 anos. Tá tudo bem, ainda.

Na minha enorme lista de preocupações, rugas nunca estiveram nem nos top 100. Talvez porque também nunca estiveram na minha testa.

(Aposto que tem muita gente indo agora mesmo dar uma conferida: foto no celular. Zoom. Só por desencargo).

Prepare-se para o momento “quando essa ruga veio parar na minha testa?“. Ele chegará para todos nós.

A brevidade da vida e eu com isso

E daí que este texto, que serviria para discorrer sobre a passagem do tempo, sobre a brevidade da existência, sobre o quanto é importante vivermos o hoje, está aqui, preso nas tais inconvenientes e mal-amadas rugas. (Também não eram tão gritantes, vai).

Mas eis uma verdade com a qual temos que lidar, cedo ou tarde:

até o pêssego fica maduro, mores.

Sim, porque rugas, pra quem ainda não as têm, são coisa de gente velha. Agora, pra mim e pra você, que já passou dos trinta, são sinais de maturidade.

E, convenhamos: melhor que assumir a falta de hidratação na pele e o descuido com o protetor solar é dizer que somos experientes, longevos, maduros.

Colou?

Não, né?

“Senhora” tá no céu, tá legal?

Vou confessar: a primeira vez que me chamaram de “senhora” foi traumática.

Quis sair imediatamente daquela fila de supermercado e me matricular no cross-fit. E no pilates e na power-ioga. Marcar terapia, constelação familiar, hipnose, cromoterapia. Só não hidroginástica, coisa que adoro, mas tem cara de gente velha, então corta.

Nunca estive exatamente contente com minha idade. Aos 13, não via a hora de chegar aos 16. Com 18, ansiava pelos 20. Uma eterna insatisfação.

Quando completei 20, a carinha de boneca de porcelana e os cachinhos meigos não me ajudavam profissionalmente. Precisava transmitir credibilidade e minha figura era o completo oposto disso. Os clientes olhavam pra minha cara de menininha e desacreditavam que tivesse qualquer autonomia para negociar.

Apelei pra progressiva, chapinha, um saco. Mas ajudou, por um tempo. Pelo menos meu psicológico ficou menos hesitante. Antes de sair de casa, ao invés de perguntar se parecia bonita, queria saber do marido se “estava com credibilidade”. Maturidade, ali, naquela época? Nenhuma. Mas eu queria, de algum jeito visual, corresponder à experiência que eu tinha e não aparentava. De novo: insegurança plena.

Hoje, e agora falando sério, sinto-me bem contente com as primeiras rugas. E com os primeiros cabelos brancos. E com o que mais tem vindo no pacote da vida.

A verdade é que nem me sinto tão madura assim. Tenho impulsos bastante infantis, inclusive, vez ou outra. Sem falar que ainda não graduei na adolescência, devo ter umas duas ou três matérias pendentes: Rebeldia Constitucional I e Relacionamentos Familiares IV, se não estou enganada.

Estou pronta para ser madura? Claro que não.

Mas sê-lo, e não estar nem aí com o que vão pensar disso, ah, é uma delícia.