Hoje o banco do parque está vazio. O sol bate, esquenta o concreto e não há ninguém ali. Em outro tempo, havia uma mãe e um filho. Em silêncio, banhavam-se com os reflexos solares.

Ela, pequena, idosa, delicada. Tinha cabelos encaracolados e usava óculos de lentes grossas. Ele, de olhar perdido, meia-idade, não conseguia sorrir. Tinha cabelos misturados de preto e branco e um jeito duro, quase desengonçado, sem contato no olhar.

Os dois andavam como quem aceita a vida como ela é.

Estavam sempre juntos, de braços dados. Todos os dias de manhã, bem cedo, eles iam ao parque. Sentavam no banco e observavam o mundo ao redor. Apenas olhavam o entorno, nada além disso. Sem risadas, sem choros, sem carinho. Estavam ali, um do lado do outro. Como que apreciando a natureza e as pessoas.

Senti admiração quando os observei pela primeira vez, entre árvores e flores. Juntos, eram poesia revelada. Sentados em silêncio. Era o paraíso para mim.

Secretamente, eu os elegi como meus companheiros de não fazer nada. Afinal, até hoje eu gosto de reparar nos que caminham, nos que namoram e nas folhas que caem. Fico no banco para apaziguar os pensamentos apressados de minha mente e as angústias de meu coração.

Acreditava que ela levava seu filho para que ele pudesse sentir o que sinto. Para que ele compreendesse que a vida é feita para ser admirada e contemplada, como as flores que brotam na primavera. Só que a primavera era minha. O outono, dela.

Nos meus trinta e poucos anos, brigo constantemente com o tempo, que parece ser severo e imperdoável.

Vivo pensando que todas as escolhas – boas e ruins – são definitivas. Lamento o quanto de vida dos meus anos eu deixei passar. E ainda desejo conquistar e realizar tanto! Vai dar tempo?

Ela sabia que o crepúsculo é finito. Um breve momento do dia. Sabia que não há porque lutar contra ele. Sabia que o sol se haveria de pôr, e que a noite viria. Ela sabia que seus braços não poderiam para sempre estar entrelaçados com os de seu filho.

Então ela não gritou, não bravejou, não reclamou. Aceitou a ordem da natureza e decidiu entrar nos passos dessa dança esquisita.

Entendi, depois que ela se foi: não estavam ali apenas para apreciar a natureza. Aquela senhora tão doce, e tão simples, estava no parque para viver aquele momento tão doce, e tão simples – que ela sabia que iria acabar. Estava ali para contemplar o dia com seu filho. E para que seu filho pudesse contemplar o dia ao seu lado.

Estavam ali para que um apreciasse o outro, apenas. A vida é feita de fases.