Não consigo trabalhar com notificações ativadas. Nem no celular, nem no computador.

Tocou o famigerado aviso sonoro, sinto-me altamente pressionada a atendê-lo.

Pode ser qualquer banalidade, eu sei. Geralmente, é.

“Mas, e se for sério?” – abro a mensagem, semi-ansiosa.

A angústia é tamanha que eu não me limito a perder o foco ou a me desconcentrar.

Aquilo vira uma questão muito mais urgente que tudo o que eu estava fazendo.

Não importa o que eu estava fazendo. Aliás, o que eu estava fazendo?

“Alguém me chama. O que será?”.

O pior é que, como Messenger, WhatsApp e Skype passaram a ser plataformas de trabalho, fica difícil escapar.

Por um tempo, tentei usar a estratégia do “Ocupado”. Não funcionou. Talvez porque esse conceito não seja muito concreto na sociedade pós-moderna-interativa-multiplataforma. Devemos todos ser plurais: “Sei que você está ocupado, só quero fazer uma perguntinha sobre a festa de ontem”.

Outra tentativa foi usar o status “Ausente”, igualmente inútil. A malandragem já está tão ultrapassada que todos sabem que você só está querendo dizer, na linguagem pós-moderna-interativa-multiplataforma, que está dando perdido pra ninguém incomodar. Logo, se o colega considera sua programação para o próximo feriado algo prioritário, não hesitará em cutucar você.

Há ainda quem se mantenha invisível. Ou quem crie um perfil profissional e outro particular. Essas duas últimas técnicas podem ser boas alternativas para quem acredita no poder da “mono-tarefa”, como eu. Confesso adotar com frequência o estilo Gasparzinho. É egoísta, eu sei. Quando EU achar que o assunto importante, posso voltar ao status “Online” e importunar meus contatos.

Sabe o que é? O problema não está nas pessoas. Está no sistema. A cada minuto, o Outlook me mostra, sutil e sorrateiramente: “Você tem uma nova mensagem”. Impossível não manter o mouse ali em cima por alguns instantes, ao menos para ter uma prévia do assunto. Lá se foi meu foco outra vez.

E o mesmo se repete, incessantemente, a cada dia. Já perdi as contas de quantas vezes usei o ALT + TAB somente enquanto escrevia este texto.

Ah! Se você não sabia, a combinação ALT + TAB, no teclado, permite a você alternar entre janelas que estejam abertas no seu computador. Se apertá-las simultaneamente, pode dar uma espiada no Face, rapidinho, agora mesmo, depois voltar pra cá. Mágico, não? Foi mal aí. A mania é contagiosa.

A pressão por resultados nos leva a assumir uma postura multitarefa diante da vida. E a nos condicionar, bem pavlovianamente, à perda de foco, à qual dei o apelido carinhoso de “síndrome de atenção descentralizada”.

Admiro pessoas que conseguem ver televisão, ouvir música, mandar whats, jogar videogame, comer um Big Mac e conversar comigo ao mesmo tempo. Tipo meus sobrinhos. E, logo mais, minha filha.

Se você é uma dessas pessoas sensacionais, parabéns. Eu não vim com esse chip (acho que não era item de fábrica na década de 80, quando fui concebida).

Sou a favor da atenção integral e centralizada: a uma conversa, a um raciocínio, a um banho relaxante, a uma leitura, a um filme, a uma lembrança.

Dedicar-me a cada momento. Dar a ele sua devida importância. Estar 100% ali.

Utopia? Talvez, mas…

Peraí, tem alguém me chamando no Whats! Já volto.