Me convide para um jantar, um café ou, quem sabe, um cinema.

Um chopp gelado em Copacabana.

Andar pela praia até o Leblon num fim de semana.

Eu aceito.

Antes disso, ser sua amiga no Facebook não confirmo.

Enquanto sentamos frente à frente, descubra se gosto do meu café com ou sem açúcar. Chopp claro ou escuro.

Observe se deixo meus cabelos soltos ou presos.

Sinta meu perfume e identifique se gosto mais de cítricos ou amadeirados.

Se me atraso ou chego cedo.

Pergunte pelos lugares onde já estive.

Descubra não por um álbum, mas pelo tom da minha voz, se sou arrogante quando conto que estive na Europa, Ásia ou na América do Norte.

Se parcelei a viagem. Pedi demissão. Ou vendi o carro.

Se prefiro Netflix para guardar dinheiro para mais uma aventura.

Ou se saio pouco porque simplesmente gosto de ficar em casa.

Se tenho mais medo de avião na aterrissagem ou na decolagem.

Deixe-me contar em qual faculdade estudei. Se era perto de casa.

Ou tinha que ir de ônibus mais trem.

Indague se tranquei a matrícula ou fui até o fim.

Se dou mais valor ao trabalho ou à educação.

Se vou à pós-graduação toda semana ou um final de semana por mês.

Permita-me dizer em qual empresa eu trabalhei e se gostei de lá.

Se moro sozinha ou acompanhada.

Compreenda nas entrelinhas se tenho os pais vivos.

Irmãos, sobrinhos, gato ou cachorro.

Ouça de quem ganhei “Cem anos de solidão” e em qual ocasião.

Se o li em um ano ou, quem sabe, um mês.

Arrisque escolher o filme sem saber se é de um diretor favorito meu.

Compre a pipoca com manteiga sem adivinhar se sou ou não intolerante à lactose.

Enquanto me leva para casa, ligue o rádio e deixe tocar aquela música que estava no pause e eu te contarei que deste grupo, hum…, não gosto não.

Ah, e me corrija com jeitinho quando eu pronunciar errado o nome daquela banda punk dos anos 80.

Esteja encantado pelas minhas ideias, mas não quando as escrevo, e sim como falo.

Me ache bonita não através de uma foto, mas…

Quando acaricio a madeira da mesa com as pontas dos dedos enquanto falo contigo.

Quando mudo a franja de lugar ao discutir sobre feminismo e capitalismo.

Ou, ainda, quando desvio o olhar por causa da timidez.

Aprecie meu sorriso largo, mas não estático.

Converse no escuro, descubra-me aos poucos, sem saber nada de antemão.

Aprecie cada informação com calma, com tempo, como quem toma uma taça de vinho.

Entre em meu mundo com o cuidado e a curiosidade de quem visita uma casa pela primeira vez.

Observe, mas sem tirar nada do lugar.

Em troca, faço o mesmo com você.

E, assim, a gente pára de querer gabaritar o que não tem nota.