Estava decidida a mudar de país e ir atrás do provável grande amor da minha vida, como contei no texto anterior.

Sair de São Paulo para viver no interior da Argentina, em Mendoza, é uma transformação bem grande na história de alguém como eu.

Como uma boa racionalizadora das situações, comecei a levantar todos os prós e contras, para me ajudar no difícil processo de decisão. Isso é realmente algo muito pessoal. Depende do gosto e das vontades de cada um.

Minha lista ficou mais ou menos assim:

1) Mendoza está ao pé da pré-cordilheira dos Andes, perto da divisa da Argentina com o Chile. Eu a-do-ro montanhas. Caminhar, escalar, andar de bicicleta perto da natureza, para mim, é viver.

2) A vida por lá pode ser mais tranquila (o que não é muito difícil, se estamos comparando qualquer lugar a São Paulo, claro!).

3) Já falo espanhol fluente, pois morei por um ano em Barcelona, o que facilita a adaptação à nova realidade.

Resumidamente, eram esses os pontos positivos.

Estar longe da família, dos amigos e perder o trabalho, no entanto, pesavam a balança para o outro lado.

Então, comecei a pensar em como eu poderia minimizar tais pontos negativos.

Primeiro, resolvi: vou experimentar, por um tempo. Não preciso decidir agora que é pra sempre. Pode parecer um detalhe, mas isso foi exatamente o que me possibilitou dar o primeiro passo.

Acreditar que poderia mudar de opinião a qualquer momento me encorajou.

Quanto à distância da família e dos amigos, não tinha muito o que fazer, a não ser virar uma viciada em Skype e somar pontos nos programas de fidelidade das companhias aéreas – o que não era de todo mau.

Em relação ao trabalho, a decisão era um pouco mais complicada. Seria aquele um amor profissionalmente inviável?

Como eu já estava cansada da vida empresarial, depois de 11 anos dando sangue, suor e lágrimas ao mundo corporativo, decidi que era o momento de arriscar.

Esperei o mês do bônus para sair. Não que tenha sido grande coisa, mas, àquela altura, qualquer centavo ajudava a somar.

Aluguei meu apartamento temporariamente mobiliado, o que me permitia ter um dinheirinho pingando todo mês e garantia minha possibilidade de retorno. Vendi o carro, investi o valor para ter uma reserva e pronto!

Fui.

Ou melhor, vim.

Mudei minha realidade, meu dia a dia, meu padrão financeiro e estou feliz.

Gostei do que encontrei.

Perdi em luxos e ganhei em tempo.

Combati e aceitei as dificuldades, que foram superadas olhando para tudo de bom que também estava no pacote.

Conheço muitas amigas que seriam infelizes numa rotina como a minha.

Mas é responsabilidade de cada um ir atrás do que gosta e valorizar o que lhe preenche a alma, e não o que faz feliz aos outros.

Você sabe o que te realiza? E de que você está disposto a abrir mão para isso?