Sempre gostei de carnaval.

Na faculdade, com a grana curta, sofri todos os anos ao ver minhas amigas indo viajar enquanto eu tinha que me contentar com a Band Folia.

Prometi, então, a mim mesma, que não passaria mais nenhum carnaval sem viajar. E cumpri minha promessa à risca.

Aproveitei diversas viagens carnavalescas, até que, enfim, chegou a vez do Carnaval de Recife.

Animei duas amigas (que já tinham ido) a viajarmos juntas para lá! E por algum motivo que não sei explicar, desencanei do meu lado controlador e pesquisei pouco antes de viajar. Afinal, elas já conheciam o esquema, não tinha segredo.

No Carnaval de Recife, a curtição acontece em Olinda, onde é impossível trafegar de carro durante o feriado. Por isso, é bastante comum as pessoas ficarem hospedadas por lá mesmo, em casas com alimentação e segurança, perto de onde tudo acontece. Ali também existem casas para as festas fechadas – os camarotes.

Começamos a nos preparar para a viagem. Comprei até um secador com a voltagem de Recife (sou dessas bem “coxinhas”, mesmo. Se meu secador não vai, eu também não).

Dias antes da partida, o organizador da casa avisa que tínhamos que levar colchão! Oi? Colchão? Como eu levo um colchão de São Paulo a Recife? Conseguimos um inflável emprestado, mas desconfiei que algo estava errado.

Cogitei desistir, mas já tinha pago mais de 70% do valor. E, afinal, me disseram que era assim mesmo. Resolvi relaxar e aproveitar.

Viajamos durante a madrugada e chegamos às 5 da manhã em Recife. Toda vez que voo, durmo feito uma pedra, mas, justo naquela vez, não dormi. Já me preocupei: como ia aproveitar o sábado de carnaval?

Chegamos cedo, então o táxi conseguiu subir até o local reservado. Ao chegar, minha amiga disse que era só ligar para o gerente da casa. Relaxei! Se a casa tem gerente, deve estar tudo organizado.

Achamos a Vulcan House – o tal do camarote. Mas nada do gerente atender.

Quando entramos, vimos aquele local tomado de sujeira de final de festa. Ao fundo, uma pessoa dormindo no palco. Era o organizador de tudo. Bêbado, bêbado, bêbado.

Eis que chega o tal do gerente para nos levar até a casa. Ufa! Aqui é o lugar das festas, não onde ficaremos.

Ao chegar na casa, eu não podia acreditar no que via. Era um mar de pessoas bêbadas dormindo no chão. Em qualquer lugar. Em todos os lugares, na verdade. Alguns nem se tinham dado o trabalho de encher o colchão.

Na cozinha (onde havia pessoas dormindo também), tinha uma panela de macarrão com uma almôndega mordida. A minha mãe tem ataques de riso até hoje quando lembra dessa parte. 

O pânico começou a bater.

O gerente mostrava um novo quarto falando que estava vazio, e não estava. Havia gente dormindo até na edícula da casa. O sol era tão forte que eles dormiam de óculos escuros. Até o Capitão América estava lá, em forma de totem, dormindo no meio daquele povo todo.

E o gerente tentando ser simpático. Tentando nos mostrar onde colocar o colchão. Latas de cerveja e cinzeiros por todos os lados.

Tudo o que eu pensava era “para que raios eu comprei um secador se nem tomada tem aqui?”.

Ficamos pensando no que fazer.

A casa não estava trancada e é claro que não tinha segurança na porta como haviam informado. Ou seja, a gente mal sabia se as pessoas que lá estavam eram mesmo da casa ou se simplesmente tinham entrado em meio à folia e lá dormido.

Decidi ir ao banheiro, e quase tive um ataque. Sabe banheiro de quiosque de praia sujo? Era igualzinho. Foi aí que dei meu ultimato: não vou ficar 4 dias em um lugar que não tem chuveiro e nem tampa de privada. Coxinha rules!

Comecei a pesquisar hotéis e passagens, tudo ao mesmo tempo. Minha amiga cogitou dormir um pouco antes de decidir o que faríamos. Eu quis ir embora imediatamente. Estava em pânico naquele lugar.

Consegui um hotel que tinha vaga a um preço que não custasse meu rim (naquele ano, passava aquela novela em que as pessoas eram traficadas para serem escravas sexuais, e eu estava me sentindo no próprio alojamento da novela). Implorei para que reservassem, mas o responsável não estava lá.

Liguei para o taxista e estava tão assustada que disse a ele que, se não conseguíssemos vaga no hotel, iríamos direto ao aeroporto. Ele foi nos acalmando. Disse que o hotel era bom e que nos esperaria fazer o check-in. Se desse algum problema, nos levaria ao aeroporto. Existem pessoas boas no mundo!

Nossa cara de cansaço e medo era tão grande que nos deixaram fazer check-in antes do horário habitual. Nosso cansaço era tamanho que capotamos. O hotel era muito simples, mas foi o melhor de nossas vidas.

Ainda tentamos ir ao camarote e pegar nosso dinheiro de volta. Impossível. Uns dois meses depois, devolveram um décimo do valor que pagamos.

Se conseguimos aproveitar o carnaval? Sim!

E, por essas e outras, foi inesquecível.

Mas com certeza essa foi a gota d´água para a crise dos 30 se instalar.

Minha dica pra você, nesta véspera de carnaval, é: confie em seus instintos. E se te pedirem para levar colchão dias antes da viagem, desista já!