Estava na manicure. Véspera das festas de fim de ano. Salão lotado.

Do nada, a coitada da Valéria desequilibrou da cadeira e foi pro chão junto com seus esmaltes, lixas e acetona. Ploft. Esborrachou-se, de saia e tudo, bem na minha frente.

Fiquei stopada, mas não havia nada que eu pudesse fazer naquele milionésimo de segundo. Até eu processar que era possível aquele tipo de acidente de trabalho, já não dava mais tempo: o tombo foi inevitável. E, sorry, mundo, mas a risada também.

Pra mim, mais engraçado que a queda é quando a pessoa tenta disfarçar o que houve. Como se andar normalmente anulasse o tropeço. Como se o tombo tivesse sido invisível.

Perdi a conta das vezes que tropiquei na rua e me fiz de doida: continuei andando cinderelamente, fingindo que ninguém viu e muito menos estava rindo.

Uma delas, estava na Rua Santa Ifigênia, o inferno dos eletrônicos (e dos tarados). De saia. Quando entendi o que houve, me vi estirada de quatro com um joelho esfolado e a mão no calcanhar de um desconhecido que agarrei para não cair de cara.

Vergonha? Não! Super normal. Levantei no mesmo ritmo da queda, tal qual um movimento de dança contemporânea. Rolamento seguido de passos confiantes.

A multidão que imediatamente se forma quando alguém cai é quase tão curiosa quanto a plateia de babacas que sai dos bueiros toda vez que uma mulher faz balisa. Ou com o comitê julgador que aparece no dia em que nosso filho tem um ataque de birra no caixa do supermercado.

Valéria levantou tão rápido que eu mesma me perguntei se o tombo tinha sido uma alucinação minha. Sentou como se nada tivesse acontecido. Tive que engolir a gargalhada.

Sim, porque é automático, repare: quando alguém cai (e não parece grave), simplesmente não dá pra segurar o riso.

Certa vez, um diálogo com minha mãe ao telefone me levou a um ataque compulsivo de gargalhadas:

– Cí, você não acredita: a tia Zenildes caiu.
– Como assim? Ela não fez uma cirurgia delicada na semana passada?
– Pois é! Diz que pisou em falso e caiu no meio da calçada.
– Hahahaha! Não pode ser, mãe! Mas ela tá bem?
– Parece que quebrou o nariz.
– Hahahahahahahahahahahahaha! Como ela conseguiu cair de cara?
– Ai, Cí, pára de rir desse jeito! Nem vou continuar contando…
– TEM MAIS? Hahahahaha…
– Ela quebrou dois dentes. Tá 1001.
– Quê? Ah, não. HAHAHAHAHAHAHAHAHA!

Só de lembrar, choro de rir. Até nisso, sou parecida com minha vó, que não se aguentava diante de um tombo alheio bem tomado. Adorava as videocassetadas do Faustão.

É claro que quando somos nós as vítimas, a coisa não fica tão engraçada assim. Quer dizer, pelo menos para nós, não.

Estava em Barcelona quando passei uma das maiores vergonhas da vida no quesito cassetada. O hall de saída do apartamento que visitei tinha uma meia-luz bem boa e um espelho gigantesco na parede lateral. Enquanto caminhava em direção à porta da rua, aproveitei pra dar aquela conferida no visual, incluindo a clássica levantadinha feminina para olhar o bumbum.

Tava me achando a Gisele na passarela, quando fui interrompida por um vidro gigante, no qual dei uma cabeçada inesquecível. A gente não se dá conta de como vidro é um negócio duro até enfiar a testa nele. Sério. Zunido na cabeça e tontura desgraçada.

Não sei se doía mais o galo que imediatamente se formou na minha testa ou o orgulho ferido, já que minha amiga sentou no chão – ao meu lado – para gargalhar da minha façanha.

E mijou nas calças de tanto rir.

> E você? Qual o tombo mais lindo do seu currículo?