Vivo, intensamente, em todas as áreas, sobretudo a profissional, buscando estabilidade. Nem sei ao certo o quanto ela me fará satisfeita, mas, aqui estou eu, indo atrás da dita cuja. Típico de quem tem mais raízes do que asas.

Não me julguem. Gosto de ser raiz.

Pra mim, ela não tem essa conotação pejorativa de “peso” ou de “prisão”. Raiz é sinônimo de tranquilidade. Aquela brisa que bate no rosto quando estamos a contemplar o mar, sentados na areia.

Raiz é saber que sempre teremos pra onde voltar. É forte, tem base, não se deixa levar por qualquer vento que a balance. É frutífera. Dela nascem o tronco, o caule, as folhagens, a copa, as flores, os frutos. Então, serve de abrigo, refúgio, dá sombra, serve pra abraçar.

Se não fosse a raiz, toda a beleza que se vê nas primaveras seria tímida e retraída. As raízes permitem às árvores crescerem frondosas, grandes, robustas, cheias de vida.

As asas, sim, me intrigam. Nunca estão satisfeitas!

Não conseguem construir algo que as proteja do frio e, por isso, vivem migrando pros tais lugares quentes. Nem sequer dão espaço para qualquer fração de estabilidade (até porque não fazem ideia do que seja isso). Estabilidade lembra algo relacionado a rotina – e quem tem asa geralmente odeia repetições.

Dizendo assim, parece que quem sabe ser raiz dificilmente conseguirá ter asas, e vice-versa.

Será?

Tenho percebido que essa “regra engessada” não tá com nada.

Alguns preferem ser árvore. Outros, passarinho. Mas todos temos raízes e asas.

Então a beleza que esses trinta e uns me trouxeram foi conseguir enxergar que, sim, também tenho asas! E que raízes em excesso machucam e incomodam.

As raízes, se não forem podadas, crescem e ocupam espaços que não deveriam. Ficam expostas demais, se não forem cuidadas e trabalhadas para cada tipo de solo em que se encontram. Raízes são truculentas, teimosas, duras. Não inspiram, apenas estão lá.

Já as asas… Ah, as asas… Elas nos levam para longe. Com asas, não precisamos ficar sofrendo no frio, ao relento, podemos procurar um lugar mais quentinho. Com asas conhecemos lugares novos, fazemos mais amizades, descobrimos outros cheiros, sentimos gostos diferentes.

Não é porque sempre fui raiz que não posso desenvolver asas.

Há momentos em que só as asas vão nos fazer ultrapassar aquele dia mau. Melhor deixar a teimosia de lado, bater, com força, as duas asas, e alçar voo. Às vezes até sem rumo, só pra respirar.

Da mesma forma, há situações em que somente as raízes nos ajudarão a filtrar as escolhas, as opiniões, os princípios. Nestes momentos, é necessário fincar raiz, deixar-se cobrir pela terra, pra dar sustentação ao que virá.

Estou aprendendo a me descobrir passarinho, sim. Posso voar.

E gosto de continuar sendo árvore, também. Posso sedimentar o que não precisa ser mudado, e ainda fazer sombra para aqueles que desejo ter por perto.

Aquele que prefere as asas é apaixonante. Aquele que prefere as raízes é cativante.

De qualquer forma, dá pra ser os dois: oferecer sombra e voar.

E você? Raízes ou asas?