Oi, São Paulo.

Vamos fazer de conta que acabei de chegar? Que ainda não passei frio e nem tomei chuva, e nem me dei conta de que não estava suficientemente agasalhada.

Vamos fingir que nunca andei a Teodoro, e nem a Faria Lima, que nunca olhei teus termômetros marcando 7 graus embaixo de um céu incrível de azul, e um sol quentinho.

Ainda me surpreendo com a gentileza das meninas caixas de supermercado, com o preço baixo da banana passa coberta de chocolate diet. Ainda não sei encontrar minhas coisinhas nas prateleiras dos mercados da vizinhança, me impressiono com as feiras de rua, com a quantidade de japoneses espalhados por aí, como se fosse normal. É normal. Aqui. Tanto quanto as velhinhas com seus xales de tricot, dizendo bom dia com seus sotaques de quem veio de longe, há muito, muito tempo.

Ainda não faço ideia de como andar pela cidade, mas me sinto amparada com os mapas e a gentileza dos que se prestam a me explicar como chegar onde eu preciso. Agradeço pela internet banda larga, larguíssima, pelas pizzarias, pelas ladeiras da Vila Madalena. Ah, e pelos cafés em copos grandes.

Ainda fecho os olhos feliz, quase acreditando que todo mundo é amigo e nunca vai me machucar. E que eu nunca vou machucar ninguém de volta. Ainda finjo que me irrito com as brincadeiras, com o deboche ao meu sotaque, com o pouco caso fingido daqueles que eu vou conhecendo. Sim. Pouco caso fingido. Porque junto com as brincadeiras vem a curiosidade, vem eu me sentindo realmente especial por lançar um “mermão” no meio do expediente. E é isso que faz de mim o que eu sou.

Ainda me perco nas ruas, e nunca vi você do alto, São Paulo.

Ainda preciso andar pelo centro, fotografar a Estação da Luz. São oito anos, continuo contando. Não passeei pelo Ibirapuera. Não cruzei a Ipiranga com a Avenida São João.

Mas já andei pelas suas ruas com lágrimas nos olhos, já sentei na calçada sem saber o que fazer, já me apaixonei pelos seus meninos branquelos e de vocabulário estranho. Já vi suas paredes desenhadas e coloridas, com poesia escapando ao concreto. Suas árvores floridas, seu arco-íris imenso. A neblina, o relógio da Paulista ao fundo, o vento uivando e dando calafrios. A garoa. Já fui coberta pela sombra dos aviões passando, pertinho, trazendo quem chega. Já dancei até de manhã, já tomei café na padoca, com vestido de festa, maquiagem borrada e coração partido.

Oito anos. Desde que cheguei com um mapa rabiscado e George Michael cantando Faith. Oito anos dos mais cheios da minha vida, dos mais sofridos, dos mais felizes. Eu cheguei buscando isso, São Paulo. E você me deu. Ora devagarzinho, ora numa avalanche, à qual eu mal sabia como sobreviver, ou se sobreviveria, at all.

E, estamos aqui. Eu e a cidade. Eu e os tropeços. Aqueles que ficaram pelo caminho, aqueles que surgiram. Os que vieram comigo, os que estão por surgir.

Oito anos. Eu e o meu reflexo nos espelhos, levemente cansado, mas sobretudo feliz. Oito anos.

Se isso não for casa, nada mais é.

Que venham os próximos. E todos os outros.