Daí eu coloco a bebê no berço, tomo um merecido banho e finalmente vou descansar. Afinal, já passa das 22h. Sono pesado vem sem demora.

Ouço o barulho da porta abrindo. Que bom, Igor já conseguiu terminar o trabalho que ia fazer essa madrugada. Fecho os olhos, mas estranho uma voz desconhecida. Rouca, trêmula, feminina. Abro os olhos.

De repente, avisto na porta do quarto, uma velhinha arqueada, de cabelo neve despenteado, andando devagar em direção à cama onde durmo. "Desculpa, me desculpa", diz, vacilante.

Ela caminha em direção ao quarto da minha filha de um aninho. Pulo da cama, coração na boca, todos os sinais vitais oscilando.

Quem é aquela pessoa? Assalto? Pesadelo? Filme de terror?

Pego a senhora pela mão, tentando entender o que está acontecendo, e a levo até o elevador, enquanto procuro reiniciar o cérebro. Paralisia mental e motora.

Ela diz que mora em São Caetano e que “o moço” a deixou no prédio hoje. Santo Deus.

Pergunto como se chama, com um domínio próprio que só Deus. Ela diz o nome completo: Beatriz de alguma coisa que não me lembro.

Nesse momento, surge da escada de incêndio uma senhora de meia idade com cara de desespero. Soube depois que era a filha da D. Beatriz, fugitiva do apartamento 34B.

Entramos as três no elevador. Filha explode num choro aliviado, mãe diz “não fica assim, filha”, e eu continuo em stand by. Elas descem no terceiro andar.

Olho no espelho do elevador: um zumbi de camisola indecente, pálida, ofegante. Minha vez de chorar.

Ajoelho ao lado da cama, e oro pela D. Beatriz.

Moral da história: não deixar a porta aberta. Never. Ponte que partiu.

Quem dorme, agora?