“A gente vai ficando velho e se torna irrelevante”, disse meu amigo com um golpe tão incisivo que me fez perder o rumo.

Na hora, a primeira reação foi negar: não, acho que não é bem assim.

Esse amigo é um cara excêntrico, antissocial, acha que a partir dos 30 não tem muito como realizar coisas incríveis na vida e que o down hill é inevitável.

Além de tudo isso, ele é brilhante, e me dói saber que algumas de suas verdades amargas se provam reais vez ou outra.

Antes, o telefone que tocava sem parar com amigos me procurando de quinta a domingo, hoje segue calado, com duas ligações diárias de minha mãe, outras aleatórias do meu marido e muitas inconvenientes da NET, Vivo, Santander e por aí vai.

Meu filho nasceu e a grande maioria dos que conheço nem deu tanta importância assim. Alguns nunca o viram pessoalmente.

Os bons amigos foram removidos para a prateleira dos amigos de “cerveja” (ainda amamento), que são ótimos para rir na mesa do bar, mas não têm ideia do que se passa em minha vida.

Já passei por apuros de não ter com quem deixar meu filho por algumas horas quando precisei, porque ninguém estava disponível. Isso vindo de uma pessoa que reúne 50 amigos “íntimos” em festas de aniversário. Acho que isso é um sinal de que os anos passaram, sim.

Antes, no auge dos 20, já larguei o que estava fazendo para socorrer amiga na sarjeta chorando por um cafajeste. Hoje, também seleciono minha ajuda, meu cuidado, minha preocupação.

Mas a verdade, nua e crua, é que meu amigo bittersweet tem certa razão. E isso acontece porque somos todos egoístas.

Deixar uma noite de descanso de lado para ir a um aniversário? Trabalhei a semana toda, e ela foi brava. Outras festas virão, ano que vem tem mais. A gente nunca para pra valorizar o ato carinhoso daquela pessoa que nos incluiu em uma lista seleta de convidados para sua festa. Em tempos de crise!

Eu sou dessas, que fica lamentado as risadas que perdeu, as histórias das quais não ficou sabendo, o tempo precioso com seus queridos. Mas parece que restam poucos da minha espécie.

Acredito, como boa sagitariana otimista, que há uma parte positiva em tudo isso.

Antes, tínhamos mais tempo livre também porque a viagem com os pais podia ficar para depois, o almoço com a vó para outro domingo e o que aconteceria nas bodas de prata da tia certamente se repetiria nas de ouro, daqui a 25 anos.

Hoje, as prioridades mudaram, porque sabemos quem está ao nosso lado. E valorizamos isso.

Não troco um café com meus pais por nenhuma cerveja no bar.

A alegria deles ao verem meu filho me recarrega para a semana.

O macarrão da minha avó me abraça e me aconchega.

E minha tia tem um marido incrível que me faz rir e joga meu filho para o alto.

Acho que não nos tornamos irrelevantes.

Apenas entramos na fase em que a relevância muda de foco.

Provavelmente, as pessoas que te importam ainda estão bem aí, do seu ladinho.

Esse meu amigo aí de cima – que, por sinal, tem uma camiseta: Don’t like morning people. Or mornings. Or people – é fã do Noel Gallagher. Um dia, me disse uma frase do cara:

“Sou uma pessoa muito fechada. Vamos deixar assim: tenho seis amigos no mundo todo e, para mim, isso basta. É suficiente. E estou pensando em me livrar de um deles… Não penso sobre o assunto. Eu tenho família. Tenho três filhos e mulher. Para mim, isso basta”.

É isso aí, Noel. TMJ.