“Nunca se perde o que verdadeiramente se possui”.

Essa foi a frase clichê que veio no meu biscoito da sorte, com uma sequência de números. Como foi um jantar especial, guardei cuidadosamente o bilhete para a Mega da Virada: uma fita durex em cima do papel na tela do meu notebook.

Não acertei um mísero número.

Um novo fim de ano se aprochega e já penso em apostar de novo naqueles números. Vai que?

Porém, aquela frase está ali há mais de um ano sendo lida e começou a me incomodar. Aquelas palavras saltando aos meus olhos, várias vezes, todos os dias, implorando por significado.

Como vieram de um biscoito da sorte, fui para o lado do dinheiro. Afinal, não ganhei o jogo, mas também não perdi, porque nunca tive milhões de milhares de reais. Tudo bem.

Há não muito tempo atrás, fui roubada e perdi uma grande quantia de dinheiro (para mim) e eletrônicos. Quando vi, lá estava a surrada “nunca se perde o que verdadeiramente se possui”. Tudo bem – pensei – esse outro ser humano também não vai possuir minhas coisas, pois provavelmente irá vender tudo.

Ok. Próximo.

Comecei a pensar na fragilidade da vida. Muitos conhecidos e familiares de amigos perderam a vida de maneira repentina, recentemente. Isso me deixou triste, pensando que poderia ser eu, no lugar deles.

E ali estava minha frase de estimação me levando para a espiritualidade: O que é a vida além de um empréstimo do universo? O que, de fato, possuo, que nunca vou perder? Se até a vida nos é tirada, o que sobra?

Pensei. Pensei muito. Tomei alguns cafezinhos de intervalo pensando. Interrompi o trabalho pensando:

O que verdadeiramente se possui que não irá se perder?

Experiências, eu acho.

Afinal, depois de morrer, não levamos nada, mas deixamos lembranças das experiências que vivemos naqueles com quem tivemos a oportunidade de compartilhar algum momento.

Acredito que devemos carregar essas experiências também, com toda a sua imaterialidade. Dizem que faz parte de nossa evolução.

Descobri que preciso mudar algumas coisas em minha vida. Trabalhar menos, cuidar mais de mim e dos que amo. Gastar menos e estudar mais. Falar menos e ler mais. Dormir menos (se isso for humanamente possível) e escrever mais.

Então, eis que veio um novo biscoito da sorte: “Ocupe a posição mais alta para exercer o controle”.

Bobagem – pensei. Que frase mais autoritária. Com toda essa nova vibe de horizontalização na forma de gerir empresas, essa ideia me parece muito antiga.

Não gostei do que li, mas guardei o papelito na carteira para novamente apostar os números. Ainda não apostei.

Mas já entendi que o controle é sobre mim mesma. A posição mais alta são as prioridades. E a maior aposta é a minha vida.

Ah, e ainda tem a Mega, né? Vai que!