O empoderamento feminino está na moda.

Mas qual é esse tal poder que as mulheres estão reivindicando para si?

De tanto ouvir empoderamento pra cá e pra lá, resolvi refletir sobre isso.

No entanto, antes, precisei rever qual o meu entendimento de “poder” e que tipos de poderes existem no mundo. Seriam só os “Podres Poderes” cantados por Caetano Veloso, aqueles exercidos por homens?

Sem dúvida, o poder associado ao controle, à hierarquia, opressão, dominação de pessoas sobre outras pessoas é uma prática ainda muito vigente na sociedade. Tal poder pressupõe que eu tenho uma força que outros não têm, o que os obriga a se submeterem a mim.

Por esse tipo de poder ter sido exercido pelo sexo masculino por muito tempo (e ainda hoje), associou-se essa força a uma forma masculina de “se colocar” na vida.

Mas esse “poder” é apenas a sombra da força masculina.

E brota de um medo.

Por temerem a perda de um lugar na sociedade, muitos homens exerceram uma força tão opressora que negligenciou direitos humanos básicos às mulheres. E fizeram isso por muito tempo.

O movimento feminista carrega essa dor em seu íntimo. Brotou dessa luta, de uma história repleta de sofrimento e injustiça.

Só que essa dor impulsiona também parte desse movimento a uma abordagem revanchista, de se colocar em uma posição de contra-ataque, de quem agora tem que tomar esse posto utilizando as mesmas formas de atuação do opressor para isso.

Penso que se relacionar com o poder desse lugar não faz bem a homens e nem a mulheres.

Se, por sua vez, as mulheres precisam se libertar de uma condição de oprimidas, os homens também devem se libertar de sua condição de opressores. Com isso, todos poderiam se reinventar.  E, assim, ressignificar a visão, o entendimento e a prática de poder.

Acredito que poder é uma força da natureza humana colocada a serviço da criação, da realização de uma vida pulsante na Terra. Essa força é abundante. Pode ser compartilhada sem exigir que alguém abra mão da sua para que outro possa ganhá-la.

Para além do empoderamento feminino, faço aqui o convite para que, juntos, pensemos sobre o empoderamento humano.

Empoderar-se é ganhar mais consciência, mais presença de si no mundo.

O empoderamento humano, portanto, pressupõe entendermos que as forças feminina e masculina são polaridades, cada qual com suas características positivas e negativas, mas que precisam ser reconhecidas como complementares dentro de cada um de nós.

Sei que parece utópico pensar em um equilíbrio total de forças. Ficar no meio do caminho, aliás, talvez não seja mesmo a melhor saída para lidar com conflitos. O meio do caminho é um lugar de inércia.

Gerir as forças femininas e masculinas dentro de nós, assim como toda e qualquer polaridade, é se movimentar em um fluxo dinâmico. Não se trata de comparar as forças, mas de respeitar suas qualidades e deixar que floresçam e se ressaltem em determinados momentos, sem medo de que isso diminua nosso próprio valor.

Viver entre polaridades é bem diferente de viver entre rivalidades.

Não precisamos nos identificar com papéis masculinos e femininos, apenas. Até porque eles não são, de fato, papéis ou convenções sociais. É uma escolha nossa qual poder queremos revelar ao mundo e transformar em energia criativa.

Em tempo: escrevi este texto com a parceria fundamental de Liandra Ribeiro.