Nem todos se prendem aos detalhes, talvez por falta de treino.

Lembro-me de ter ouvido numa palestra para professores do Ensino Fundamental sobre a importância de observar os alunos na sala de aula. Achei tão relevante que comecei a praticar no dia a dia, no decorrer das aulas.

Enquanto as crianças resolviam exercícios, olhava para cada uma, prestando atenção nos olhos, por exemplo. Na outra vez, nas mãos, nas orelhas, na postura, no modo de franzir a testa ou de se inclinar para ouvir melhor e assim por diante. Mães foram alertadas e alguns precisaram usar óculos, outros consultaram otorrinolaringologista ou dermatologista…

Aprendi com minha mãe, costureira, a dar atenção ao acabamento das roupas, às costuras e arremates, antes de comprar qualquer peça. Meu marido, professor de Matemática, sempre se preocupava em observar medidas, alinhamento, simetria, valor relativo de preços… Isso é contagioso!

Exageros à parte (cuidado com o TOC!), detalhes são importantes quando se quer presentear alguém para demonstrar gratidão, na apresentação de pratos num jantar especial, nas celebrações em geral, na confecção de trabalhos artesanais, entre tantas outras situações.

Nos relacionamentos, pequenas gentilezas e um sorriso acolhedor podem fazer enorme diferença, pois produzem efeitos de reciprocidade, o que gera melhora na atitude de muita gente, como reação em cadeia.

Quantas vezes ouvimos notícias de acidentes fatais, em que pessoas sobreviveram por pequenos contratempos: relógio que não despertou, pneu furado, confusão de datas ou horários… Detalhes abençoados, esses!

Quando se trata de amor, nada como a letra da música de Erasmo e Roberto Carlos para retratar, como uma profecia (ou praga), as marcas profundas que os detalhes deixam na relação:

Detalhes tão pequenos de nós dois
São coisas muito grandes pra esquecer
E a toda hora vão estar presentes
Você vai ver

Atualmente tenho pensado nos detalhes quando o assunto é saudade – memória do coração. Nem podia imaginar como é enorme o número de coisas, sons, cheiros, gestos e circunstâncias que despertam lembranças a toda hora. E palavras, então! Quando a convivência foi longa e chega àquela fase em que um adivinha o que o outro vai dizer, frases inteiras vêm à mente, despertando sorriso ou lágrima.

Creio que prestar atenção aos detalhes não precisa ser uma rotina chata e desgastante, mas pode ser a tentativa – mais que válida – de transformar cada momento numa boa recordação.

Ouça a música

Post original do Blog “Crônicas da Alma”.