Quando mais jovem eu me perguntava por que havia um dia internacional da mulher sem que houvesse o dia do homem. Já estaria valendo mesmo que fosse um dia nacional…

E com os anos concluí que, de fato, a mulher precisa desse dia de reconhecimento. Infelizmente, não pelo ser especial que é, mas pelo tanto que ela precisa se posicionar para adquirir respeito.

Diz a Antropologia que são séculos de uma sociedade em que os machos se acham superiores às fêmeas e, por isso, encaram-nas como seres de seu domínio. Um tanto quanto animalesco, já que essa superioridade é medida apenas pela força física, deixando de lado atributos tão mais relevantes nesta sociedade moderna.

Pois eu digo que a desvantagem da mulher ocorre também quando o assunto é finanças.

Por várias razões, a mulher é prejudicada na sua caminhada de acúmulo de dinheiro; mesmo que por ventura tenha a consciência de construir sua independência financeira, ela acaba sendo espremida nas duas pontas: em seu bolso entra menos dinheiro e também sai mais dinheiro desse mesmo bolso. Vejamos:

  • vira a mexe ouvimos por aí que ela ganha menos que ele para fazer o mesmo tipo de trabalho. Mesmo que isso não seja uma verdade absoluta ou haja exceções em algum lugar, existem várias pesquisas revelando gaps entre os salários. Muitos números já foram publicados e podemos estipular, por vários levantamentos, que a mulher deva ganhar cerca de 60% do que ganha o homem – mesmo que produza mais que ele, ou que entregue mais resultado no final do mês.
  • fica para trás na corrida profissional, vide a predominância dos homens nas posições de liderança corporativa. Às vezes por escolha própria – porque acaba sobrando pra ela o cuidar de casa e filhos –, às vezes porque a empresa escolhe promover homens.
  • em geral, está menos disposta a correr riscos. Até o Über já verificou que suas motoristas ganham menos. Não por discriminação do aplicativo ou dos passageiros, mas porque elas preferem circuitos mais curtos, que não saiam da sua região habitual, dirigem mais devagar e durante menos horas.
  • é mais suscetível a perder emprego, seja porque engravida, seja porque ocupa posto de menor importância, facilmente “descartável” na necessidade de corte de custos.
  • tende a ser mais humana e a se dispor a cuidar de um familiar em necessidade, mesmo que isso lhe custe o emprego.
  • por hábito, cuida mais da beleza: é gasto com esmalte, maquiagem, roupas apropriadas para cada ocasião, academia para controlar o peso, perfumes com tipos diferentes de fragrância… Enquanto o homem só tem cueca, ela tem calcinha e sutiã – no mínimo, o dobro do gasto. Enquanto ele tem 10 cuecas, ela tem umas 20, 30 peças. Veja quanto gasta o homem com cabeleireiro. Agora compare com quanto gasta a mulher…
  • há de se reconhecer seu ponto fraco: mulher tem uma certa dificuldade de resistir a uma promoção. Ou é menos resistente que o homem, na média. Ela tende a comprar muito mais que ele, por vezes até sem taaaanta necessidade. Algumas dizem ser uma verdadeira terapia o sair para comprar bolsa e sapato. A filha pequena não tem uma tiara; acumula umas 10. O filho pequeno tem, no máximo, um boné. Se é que tem.

Ganhando menos e gastando mais é de se supor que sobre pouco para pensar em investimento.

Esta hipótese se confirma nos dados de CPFs cadastrados de investidores:

  • no Tesouro Direto, para cada mulher investidora há 3 homens. Ou seja, são 3 vezes mais homens do que mulheres nessa que é a melhor renda fixa do país.
  • na Bolsa de Valores brasileira essa proporção se mantém praticamente igual: 77% dos investidores são homens e apenas 23% são mulheres.

Junte tudo isso e ainda considere que ela tende a viver mais que o homem. É só pegar qualquer levantamento de expectativa de vida e você verá que, tradicionalmente, ela vai mais longe.

Ir mais longe nessas condições pode não ser uma boa notícia, porque terá acumulado menos dinheiro, terá gastado mais e, naturalmente, sobrado menos para viver a velhice com dignidade.

Não vamos entrar no mérito de ela ser casada e contar com o suporte do marido, ou mesmo de ter a aposentadoria dele quando ele morre.

Melhor do que contar com os acasos da vida é você, mulher, tomar consciência de que sua vida é você quem faz.

Seus caminhos são fruto das escolhas que faz – mesmo que sua posição esteja prejudicada nesta sociedade machista.

Não estou defendendo que a mulher deva ir contra sua natureza e passar a se comportar como homem. Também não prego nenhum tipo de competição entre os gêneros, a famosa e infrutífera guerra dos sexos.

Você pode aceitar e assumir as condições da sua própria natureza. Você pode ser vaidosa, humana, protetora. Mas lembre-se de proteger em primeiro lugar a si mesma: saiba que, por menos valor que você dê ao dinheiro, o que você tiver acumulado será necessário para o momento em que você não tiver mais salário.

Apesar do desequilíbrio de ganhar menos e gastar mais, adquira o hábito de investir parte do seu salário todo mês, sem exceção. Para não ter perigo de não sobrar nada, separe essa quantia assim que receber o salário, e passe o mês com o restante.

Por menor que seja a quantia aplicada, no final da vida você terá acumulado uma pequena fortuna que, se não muita, deverá ser suficiente para não passar necessidade.

Quanto mais ativos você tiver adquirido ao longo dos anos, mais renda extra você terá automaticamente na sua conta. Some essa renda extra com a aposentadoria e verá uma condição bem mais feliz de vida.

Quando pensar em investir, lembre-se: a Bolsa pode ser uma opção melhor que as mais bonitas bolsas.