Era uma vez uma garota alegre de 3 anos que acabara de voltar às aulas numa escola completamente nova, depois de dois meses inteirinhos grudada na saia da mãe, embalada pelo pai e adoçada pelos avós. Soa familiar?

Eu, no caso, era a mãe. Tranquila e confiante de que havia preparado a criança para aquele momento – que deveria estar sendo feliz -, confesso que não bolei um plano B.

Na minha cabeça amadora e inocente, a escola nova seria um mar de rosas desde o início. Afinal, o ano passado havia sido excelente, ela adorava a escolinha, até reclamava na saída porque “não tinha dado tempo de brincar o suficiente”.

“Minha filha está crescendo… Já dialoga, argumenta, faz combinados e cobra promessas. O que pode dar errado?” – concluí.

Agarrou na minha perna. Não houve diálogo, só bico. 

Apontei as coleguinhas conhecidas dentro da sala. Nada. Pedi pra me mostrar onde estava a cadeira dela ou onde guardaria a mochila linda da Frozen. Não quis. Fiz uma brincadeira sobre as garrafinhas de plástico que tínhamos trazido para a atividade. Nem tchum.

Adotei a postura de mãe firme e ameacei ficar brava. Abraçou mais forte.

Professora não teve dúvida: pegou-a pelo bracinho e inventou qualquer desculpa para empurrar a pequena sala adentro.

Se essa estratégia da distração funcionava até então, resolveu falhar gostoso bem quando mais precisávamos. A criança não distraiu coisa nenhuma. Chorou mais forte, e mais forte, e mais forte – e com lágrimas (isso é importante pra saber se é manha. Não era não). Era medo.

Estendeu o bracinho na minha direção, rosto todo vermelho, no colo da professora, que caminhava com ela entre criancinhas assustadas com aquele choro desproporcional e doído. Talvez mais em mim que nela, eu sei.

Foi quando cometi o enorme erro de não ir embora.

Pernas paralisaram, sei lá. Não consegui me mover.

Ouvi a professora consolar minha filha: “a mamãe já foi, está tudo bem, vamos brincar…”.

Não estava tudo bem.

Ela chorava e me via bem ali na porta, de onde eu precisava ter saído e não fui capaz.

Meu desejo? Dar colo. Embalar. Proteger. Superproteger.

Num ímpeto de consciência, corri escola afora, com a culpa de quem parecia ter deixado uma ovelha no matadouro.

Chorava, impotente. Merendeiras tentavam me dizer que tudo ficaria bem – e eu sabia que sim…

“Mas e se ela ficasse traumatizada porque a professora a puxou pelo braço? E se não quisesse mais ir à escolinha? E se isso a impedisse de ter uma experiência legal com os colegas? E se ficasse magoada com a professora?”

Medos tão idiotas, medos tão reais.

Lembrei-me, então, de que crescer dói (porque sempre fui defensora do “caiu, levanta“).

E quem estava crescendo não era só ela, ao enfrentar o novo.

Era eu, pelo mesmíssimo motivo.

Você já deve imaginar que, ao buscá-la, no fim do dia, encontrei uma criança eufórica e radiante.

Estava na fila do pulo, seja lá o que era aquilo. Crianças a avisaram que sua mamãe estava ali.

Agarrou a professora para dar tchau, abraçou amigos, mandou beijo e tudo.

– O que combinamos, Isabel? – perguntou a professora, ainda com a pequenina no colo.

– Amanhã eu não vou chorar, mamãe. A professora disse que o Pinóquio não gostava de escola e ficou burro e eu não quero que minhas orelhas fiquem que nem as dele. Eu sou uma moça”.

Será que orelha de mãe também cresce quando ela faz asneira? – me pergunto, reflexiva.

Brincadeiras à parte, não me culpo pela insegurança. Quero acertar, daí o medo do erro.

“Mãe de primeira viagem é assim mesmo”, tive que ouvir bem quietinha e ainda sorrir para a professora. Ela, melhor que ninguém, sabe que o período de adaptação é muito mais para os pais do que para os filhos…