Já são dois anos de vida toquiota. Dois anos de imersão em uma cultura tão diferente! Hábitos diferentes, gente diferente, idioma diferente, comida diferente.

Vez ou outra, até encontro semelhanças entre países distintos. Mas o Japão é único e mistura elementos tão interessantes quanto antagônicos. É uma impressionante mistura de tradição e modernidade.

O controle imigratório foi o meu primeiro contato com o Japão. E me senti bem-vinda.

Enfrentei filas enormes, mas fui atendida por pessoas educadas, o que, muitas vezes, não acontece nas imigrações de outros países. Já passei por situações muito desagradáveis em outros continentes e sempre tendo a pensar – erroneamente, aprendi – que os controles são feitos por gente que te olha com desconfiança.

Aqui, comigo, não foi assim. Fiquei feliz, pois me sentir bem-vinda, em qualquer lugar, é fundamental para que eu queira voltar (ou ficar).

Tive impressões iniciais positivas, especialmente em relação à organização e à limpeza. Nunca vi banheiros públicos tão limpos, por exemplo. Evidentemente, depois de um tempo, passada a fase de encantamento, comecei a identificar os problemas que todo país do mundo tem.

Vivi situações extremamente embaraçosas que encarei com bom humor.

Logo nos primeiros dias, ao passar pela catraca automática do metrô, introduzi o cartão pré-pago no espaço para tíquetes de papel. Não sabia que era só para encostar o cartão (e não prestei atenção, confesso). Pois lá fui eu: enfiei o cartão e bloqueei a catraca. E a fila. Detalhe: o tal local tinha duas catracas, apenas. Sorte que logo veio o funcionário e salvou o cartão (ou me salvou).

Já confundi shampoo com sabão líquido, já escolhi comida sem saber o que tinha dentro, já demorei horas no mercado para comprar amido de milho (hoje eu já sei identificar direitinho!), comi doce de feijão pensando que era chocolate…

Os japoneses, embora sejam pessoas polidas, depois de duas cervejas, ficam totalmente desinibidos. Ainda não me acostumei a essa maneira barulhenta de comer e gostaria de entender como as mulheres se equilibram em sapatos que parecem ser dois números maiores que seus pés. Sei que são diferenças de hábitos e vou tentando me adaptar a elas.

Viver aqui tem me proporcionado experiências valiosas. São muitas – e muito fortes – as diferenças, mas vou aprendendo tudo o que posso.

Enquanto não me sinto completamente adaptada (creio que nem em duzentos anos me sentiria), confesso: algumas vezes usos mímicas para me comunicar, engano o paladar com o que encontro por aqui e vou usando a tecnologia para amenizar a saudade.