Ruína y Leveza é um livro que fala sobre viagem, mas não apenas… Retrata sentimentos – quem sabe – universais.

O romance de estreia da gaúcha Julia Dantas narra a história de Sara, uma publicitária que, depois de um término de namoro seguido de demissão, tudo isso somado à crise do início da fase adulta, viaja sozinha ao Peru por três meses em uma jornada fora da obviedade turística e próxima ao autoconhecimento e à transformação.

Parece um pouco clichê, mas é exatamente nesses lugares comuns que a história prende a atenção. A narrativa não linear contribui muito para uma leitura mais rica e interessante, mas o que mais chamou minha atenção foram os questionamentos, dores e incertezas da jovem. Amizades, carreira, trabalho, término de relacionamento. Em Sara encontrei uma amiga com quem secretamente compartilho o mesmo pensar e pesar.

“Por algum motivo misterioso, quando nos propomos a ficar sozinhos, se trata de uma experiência de autoconhecimento. Mas quando estamos sozinhos porque as circunstâncias nos obrigam, nos sentimos insignificantes, tolos, irremediavelmente desamparados, Talvez porque, quando estamos no meio do Peru, sabemos que em algum lugar de nossa cidade natal, em algum momento, um amigo comentará Sara foi pensar na vida no meio dos Andes, e isso causará espanto ou admiração, mas ninguém nunca dirá Sara esteve numa quarta-feira, sete horas da noite, sozinha no quarto, a chorar solidão de ser um só.”

 

Não é um livro de autoajuda e nem resultará em um final hollywoodiano em que tudo milagrosamente termina bem. Também não é um guia de viagem e nem mais um manual de “largue seu emprego, venda tudo e seja feliz”.

Julia Dantas conseguiu colocar na ficção, de forma leve, experiências que posso considerar próprias da minha geração: cobranças profissionais, financeiras e sociais.

Sara se debate internamente com o rompimento de futuros que lhe pareciam evidentes.

“Entre deprimidos e deslumbrados, as mesmas coisas aconteciam pelo mundo todo, o que é equivalente a nada acontecer em lugar algum”.

 

Gosto de Sara quando, após o fim de seu relacionamento, tenta entender o que seria dela em um mundo construído idealmente para casais. Sente-se perdida, sozinha e, para mim, o crucial: sem saber quem, de fato, ela deveria ser. Perde suas referências, seu amigo, sua casa, sua realidade e passa a viver a dor do deixar ir.

“Eu não me reconhecia ali, nem em lugar algum. Só no passado eu fazia sentido.”

 

Lima, Cuzco, batata doce, milho tostado, Inka Cola. Sara mergulha na cultura peruana e a descreve além da visão de um turista comum, conduzindo-nos a conhecer desde um ritual do fogo até uma mina de estanho por dentro. Viajamos ao Peru com suas paisagens, comida, cultura, desigualdades e abuelitas. Tudo descrito com muita sensibilidade e senso crítico.

“Larguei a mochila no chão, com vergonha por levar ali dentro uma câmera fotográfica que devia valer mais do que todas as suas posses juntas”.

 

A transformação do olhar de Sara não é somente para aquilo que ela observa do lado de fora, mas principalmente para o que ela consegue compreender a respeito de si mesma. Uma busca por sentido e identidade.

“- Só penso que às vezes eu poderia estar fazendo algo de útil da vida, algo de útil de mim. Você nunca sente que está se desperdiçando?”

 

Ruína y Leveza é uma leitura leve e fluída para quem deseja se inspirar a pegar sua mochila. Para os que vivem o desencontro do início da fase adulta entre expectativas e realidade. Para os que gostam de viajar e, mais ainda, para aqueles que amam se perder – mesmo sem sair da própria cidade.

 

20161104-ruina-y-leveza-capaDescobri o Ruína y Leveza através da indicação da booktuber Gisele Eberspächer. Um achado bem bom. Comprei na Livraria Cultura, e tem também versão digital.
Título: Ruína y leveza
Autora: Julia Dantas
Editora: Não editora
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