Eu não sou psicóloga. Mas sou gente.

E, pelo bem da gente, proponho o fim da ditadura da alegria!

Hoje, uma amiga corajosa remarcou um encontro nosso dizendo que precisava “cuidar de uma tristezinha besta”. Corajosa, pois quase todos inventariam uma desculpa mais socialmente aceita para justificar a ausência.

Tristeza é tabu. Falar que está triste é provocar constrangimento e audição seletiva. Alguns ainda perguntarão o que aconteceu e se podem ajudar. Poucos legitimarão o entristecido e sua tristeza.

A Marina Colassant tem um texto maravilhoso que afirma que “a gente se acostuma pra não sofrer”. A gente se acostuma a disfarçar a tristeza de raiva ou de alegria. A gente coloca nossas máscaras e vai sobrevivendo. Engolindo sapos e soluços. Inventando desculpas. Mudando de assunto.

Vinícius de Moraes já cantou que precisamos de um bocado de tristeza para produzir beleza. Até a Pixar tentou desenhar pra ver se adultos e crianças entendiam a importância da tristeza.

A tristeza é uma emoção digna. Digníssima!

Ela é importante para processarmos as coisas, a vida e nós mesmos.

A tristeza nos dá profundidade, nos torna menos levianos e infinitamente mais humanos. Não estou aqui falando de depressão… estou falando da tristeza passageira que chega, destrói, nos reconstrói e vai embora. Saímos da tristeza renovados. Com uma compreensão melhor do mundo.

Mas tristeza dói. Dói quando a tristeza é nossa. Dói ainda mais quando é de alguém amado. E nós, epicuristas modernos, movemos mundos e fundos pra evitar a dor.

Somos humanos, não bolhas flutuantes de alegria.

Tristeza faz parte e é útil. Talvez seja a hora de superar o controle emocional e abraçarmos a ideia de um reconhecimento emocional, para que nosso pacote de emoções cumpra sua função.

Acho que da próxima vez que alguém me confrontar por estar triste e me perguntar um preocupado-constrangido-educado “o que foi que aconteceu?”, vou responder “Putz, decidi que eu ia tentar esse negócio de ser humano. A tristeza veio no pacote básico de programação e agora eu vou ter que lidar com ela”.

Ninguém deveria ter que se desculpar por estar triste.

Ainda essa semana, uma moça saiu aos prantos do analista e foi parar sozinha comigo no elevador. Imediatamente, ela se viu na obrigação de explicar o choro e fazer uma piada com a situação. Em vez do tradicional olhar constrangido, ofereci apoio: “Tudo bem estar triste. Quer um abraço?”. Ela aceitou, me abraçou forte e chorou no meu ombro. Choramos juntas. Não sei o problema dela, e não faria diferença saber ou não. Importa que, naquele momento, um ser humano olhou pro outro e se reconheceu.

Para a minha tal amiga corajosa da “tristezinha besta”, eu defendi (e defenderei sempre) que nenhuma tristeza é besta. Atitude besta seria não cuidar dela.