Eu sei que às vezes dói e sei que pode ser boa.

Saudade chega a ser sonora: ecoa em nossa cabeça e nossa alma pedindo atenção!

Mas saudade nem sempre será uma trilha sonora de nossa escolha. Está mais para música ambiente: sempre vai estar lá. Mais alta, mais baixa, mas vai estar lá. Quando estamos focados em outra coisa, mal a notamos. A não ser que ela esteja alta, Alta, ALTA (ou assim nos pareça).

A saudade só fica barulhenta quando nossos ruídos internos diminuem.

Saudade também é tátil. É física. Tem saudade leve e saudade pesada. Tem saudade com-pli-ca-da-men-te deeeeensa.

Sentimentos que são como aqueles objetos que ficam sobrando no fim da arrumação do armário. Eles meio que não se encaixam em nenhuma das gavetas. Você os muda de lugar diversas vezes durante a organização. Não, você não quer jogá-los fora, ou porque um dia podem ser úteis, ou porque são bonitos, ou só porque são seus. No final, aqueles objetos/sentimentos não resolvidos acabam juntos com todas as outras saudades e quinquilharias numa caixa qualquer intitulada badulaques.

Esses pequenos objetos estão sempre lá, mas só incomodam quando o armário já está explodindo. Falta espaço para processar tudo. Aí não tem jeito: é hora de organizar, compartimentalizar, juntar tudo em uma caixa e ver o que não serve mais…

Saudade incomoda sempre, mesmo quando é boa!

(Só acha saudade boa quem já aprendeu a racionalizá-la, eu acho. Afinal, saudade que é saudade dói).

Mas, não confunda: boas lembranças passadas não são saudades. Pensar que aqueles eram “bons tempos”, sem desejar que eles voltem, nem por um segundo, não é saudade. É conteúdo. É reconhecer que aquela lembrança já encontrou sua gaveta no armário. Já faz parte da sua trilha sonora. Já foi absorvida pela sua personalidade de forma confortável e valiosa. Boas lembranças são meias, guardadas entre iguais, com função clara e definida. Sempre tem gaveta para meias.

Saudade, para mim, tem sempre um cunho de perda. Ou um desejo de se estar um pouquinho melhor do que realmente se está no presente.

Não tenho saudade de alguns de meus amigos mais queridos, ou mesmo dos meus avós. Tenho memorias incríveis com cada um deles e os amo incondicionalmente, sim. Mas cada um deles já faz parte do meu repertório musical e encontrou sua própria gaveta. O seu papel na construção de quem eu sou já me é claro e eu os guardo carinhosamente, cada um em suas devidas gavetas.

Mas tem gente, tem coisas, tem situações das quais eu ainda não estou pronta para abrir mão, mesmo que já tenha sido forçada a isso. Pequenos e grandes sentimentos mal resolvidos. Acordes dissonantes. Objetos sem gaveta. Para mim, isso é saudade.

Quando viajo, sinto saudades da minha cama. Quando estou em são Paulo, sinto saudades de me sentir segura ao caminhar de madrugada na rua. E, todo santo dia, sinto saudades da minha mãe.

Mais sobre saudade?

Preparamos uma playlist com 30 músicas nessa vibe. Só dar o play.

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