Sábado à tarde chega uma mensagem da minha mãe no Whatsapp. Uma foto de vários capachos mal posicionados, um em cima do outro. Em cima de todos estava um de gatinhos com os rabos entrelaçados para formar a palavra “Welcome”. A legenda da foto: Gosta? Respondo: Gosto. Onde você tá? Ela: Na Leroy. Vou levar pra você. Eu pensei em dizer que não precisava, cheguei a digitar. Mas apaguei. Lembrei do que tinha acontecido dias antes.

Estávamos jantando nós três: eu, minha mãe e meu namorado. Comentei que precisava produzir logo o capacho do apê, porque era um saco ter que limpar os pés na porta das outras pessoas. Pude ouvir talheres caindo das mãos e batendo nos pratos. Só sobrou um silêncio, que minha mãe quebrou com indignação.

– Você não tá limpando os pés nos capachos dos seus vizinhos, está Marina?

– Tô, mãe. Vou levar a sujeira da rua pra casa?

– Marina, esses tapetes não são seus.

– Ave, que exagero. Eles ficam lá, do lado de fora. Não é que eu tô entrando no lavabo das pessoas e esfregando o tênis no algodão egípcio delas. São capachos. Né, lindo?

Ele só conseguiu dizer:

– Marina, tudo nessa história é horrível.

Acontecia o seguinte: há meses eu tinha encontrado uma referência de capacho perfeito no Pinterest, totalmente possível de ser feito por mim. Era a minha cara. A cara do apê. Seria personalizado, sabe? Parecia bem simples de executar. Era só fazer uns moldes com Contact, comprar tinta em spray branca e um capacho de fibra de coco. Eu faria logo que a rotina acalmasse. Acontece que nunca acalmou.

Seis meses depois de ter mudado eu me encontrava no hall do prédio, esfregando os sapatos rapidinho nos capachos do terceiro andar, tentando agir naturalmente, embora ciente de que, se fosse vista, não seria bem interpretada.

O tapete não é o único DIY (do it yourself) com o qual falhei miseravelmente. No meu Pocket estão salvos todos os links de receitas de comida que eu nunca farei. Eu gosto de guardar aquelas bem elaboradas: de mil folhas com doce de leite a rabada com agrião (que exige cerca de 57 horas de cozimento em fogo brando). Aí, eu chego em casa e revejo todas elas com a tristeza no olhar de quem idealizava um futuro melhor, mas só conseguiu preparar o homus a jato da Rita Lobo e comer com pão congelado.

Alivia saber que não estou sozinha nessa. Uma amiga demorou tanto para fazer uma cortina que viu em um tutorial da internet, que já mudou de casa e agora terá que buscar outra referência para nunca executar. Outro amigo estava há dois anos para começar a ler um livro e ficou chocado quando a esposa doou a publicação numa sessão de desapego. Cada um tem seu tempo, ele disse. É verdade.

Mas e se o nosso tempo for precioso demais para nos comprometermos com coisas que a gente sabe que não vai cumprir?

Do it yourself. Ah, claro. But when?

É um trabalho constante de escolher minhas batalhas na vida (e não é diferente com os DIY que tanto curto no Pinterest). Mas tenho tentado me livrar dessa angústia de querer fazer tudo-ao-mesmo-tempo-e-agora. E da insatisfação crônica que isso causa.

Fica menos sofrido quando lembro que sempre encontro espaço para aquilo que quero. Nunca deixei de acompanhar os grupos de WhatsApp que me interessam. Consigo ler os meus necessários e queridos livros. Jamais cogitei não zerar Stranger Things.

Sabe como é… Prioridades. Quando posicionei meu presente na porta, sorri aliviada: tive a certeza de que aquela foto de um tapete na internet não era uma delas. E tudo bem.