É fato que o cérebro humano é programado para resistir a mudanças. Seu objetivo é evitar que gastemos energia. Devemos criar hábitos. Assim, valorizamos o que aumenta nossas chances de sobrevivência.

Toda mudança é vista como ameaça a esse equilíbrio. De outra forma, como explicar a irresistível atração de doces e frituras, mesmo sabendo que em excesso fazem mal? Hábitos ancestrais que se tornaram um problema contemporâneo, derrotando na maioria das vezes nossa bem-intencionada vontade de malhar.

Mesmo assim, acho que vale a pena encarar as mudanças. Muitas vezes você se sentirá um Dom Quixote de saias, lutando contra os moinhos de vento. No entanto, depois que abraça a tarefa e consegue mudar, a sensação é maravilhosa. O medo e o frio na barriga fazem parte e fornecem a adrenalina necessária para se lançar na empreitada.

Falo por mim. Desde cedo na minha carreira – sou jornalista de formação – tive claro que não queria me especializar em um assunto e trabalhar no mesmo lugar por anos a fio.

Comecei na editoria de Esportes da Folha de S.Paulo, onde na época só havia duas colegas e eu no meio de quase duas dezenas de homens. Depois de quatro anos, me deu aquela coceira de mudança. Enfiei na cabeça que iria morar fora. Foram dois anos de planejamento até conseguir uma bolsa para passar um ano sabático fazendo um mestrado em Comunicação e Economia na França.

Se tive medo? Claro! Mas enfrentá-lo é preciso se você quer mesmo mudar. Exige ainda uma predisposição calculada ao risco: a oportunidade surge, você avalia se vale a pena, quais serão os ganhos e perdas, planeja o salto e se joga. Tipo quando vai empreender. Você até pode ter uma ideia, sair fazendo e dar certo. Porém, as chances aumentam se houver planejamento e organização.

Depois que voltei da França, experimentei diversas áreas: economia, variedades, comportamento, celebridades, decoração. Até surgir a oportunidade de mais uma mudança: participar, como diretora editorial, da criação da unidade de negócios de Coleções da Editora Abril. De novo, aquele frio na barriga. Fui. Acertei, errei, colecionei histórias, experiências, amigos. Aprendi muito e ainda mais quando segui o conselho do meu gestor para fazer um MBA em Gestão empresarial.

Eu ainda não sabia, mas estava me preparando para minha próxima mudança: assumir, no Brasil, o cargo de diretora geral de uma editora inglesa de miniaturas colecionáveis. Uma cadeira na qual nunca havia sentado. Morri de medo, mas fui. Lembro de ter comentado com um amigo: “Será que estou preparada ou sou apenas uma fraude?”. Essas dúvidas são normais. O importante é estar aberta a mudanças e acreditar em si mesma. Se vai dar certo, não dá para saber. Porém, se não tentar, você nunca saberá.

Essa última experiência profissional se encerrou em fevereiro de 2016. Casada há mais de 20 anos, mãe de um filho lindo de 9 anos, casa própria, viajada, sem emprego, me perguntei: o que quero fazer da minha vida?

Mapeei algumas possibilidades: voltar a empreender, estudar, mudar de área. Fiz um pouco de tudo. Reposicionei minha empresa de comunicação para atender a área corporativa, fui estudar Design Thinking (a metodologia para resolver problemas complexos com foco no ser humano e popularizada pela d.school, a escola de design da Universidade de Stanford) e passei a ser consultora social no Igesc (Instituto de Gestão para Entidades da Sociedade Civil), ligado à FIA (Fundação Instituto de Administração).

Ainda não sei onde tudo isso vai dar. Só sei da sensação de estar equilibrando vários pratos, girando sobre varetas de madeira. Dá um medo danado de deixar algum cair.

Mas é esse friozinho na barriga que me faz seguir em frente.