Então é assim?

Mamãe vai resolver até problema de solteirice para você, neném?

Sinto-me um dinossauro. Sim, jurássica.

Antes que me julguem mal, nada contra a fantástica ideia da mãe que anunciou seu filho no Facebook, depois de um desabafo do rapaz que alegava estar carente aos 23 anos de idade. Talentosíssima e de currículo impressionante, mamãe virou case. Meu desejo é que desfrute por longo tempo da merecida fama. E, claro, que atinja seu objetivo final, que é desencalhar seu – agora cobiçado – filho guitarrista.

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Depois de me divertir um bocado com os comentários criativos e bizarros do meu povo brasileiro naquele post da Elika Takimoto, porém, fiquei pensando na Geração Z, os tais Centennials.

Sim, aquela galera que acha normal ter nascido depois de 1990. Nossos queridos nativinhos digitais. Acontece que pessoas nascidas de 1990 pra frente são – e sempre serão – crianças, se não bebês, para nós, os que vieram antes (ou muito antes) do surgimento da internet.

Antes que me julguem mal novamente, ressalto que tenho consciência: é bem provável que os Baby Boomers e até os da Geração X tenham olhado da mesma forma para nós, Millennials que acham normal ter nascido na década de 80. É a vida: aquela máxima “no meu tempo era melhor” servirá para toda e qualquer geração.

Dito isso, voltemos ao dinossauro que me sinto, pois. É como se tivesse sido congelada no tempo e chegado agora, bem típico dos filmes da saudosa Sessão da Tarde.

O motivo nada tem a ver com alguma dificuldade em me acostumar com novas tecnologias. Quem já enfrentou os perrengues de uma conexão discada para entrar como “gatinha do ABC” numa sala de bate-papo do Uol jamais se assustará com qualquer revolução tecnológica.

Vejo-me, porém, estarrecida diante de uma geração de filhinhas e filhinhos mimados, que têm tudo à sua disposição num estalar de dedos – ou num botão de enviar do Whats.

Para mim e para a maioria das pessoas com quem convivi não foi assim tão fácil, a vida. Comidinha na boca. Mamão com açúcar.

Meu pai teve que vender bala na saída da escola pra ajudar no sustento dos irmãos mais novos. Meus avós tinham, semanalmente, meia dúzia de bananas para dividir com as quatro filhas e aquilo era o máximo que obteriam de sobremesa antes do Natal. Minha tia precisava esperar a irmã mais velha chegar do colégio para pegar o sapato emprestado e, então, caminhar sei lá quantos quilômetros na terra batida e poder estudar.

Felizmente, meus pais conseguiram me dar muitas facilidades que eles mesmos não tiveram. Sou grata pela comida que nunca faltou, pelas bolsas de estudo conquistadas pelo suor de minha mãe, pelos mimos muitas vezes nem merecidos. Mas, especialmente, agradeço por terem me ensinado a valorizar tudo isso. E a batalhar, também, para proporcionar uma vida digna para minha família. Sem preguiça. Sem mimimi. “Vai lá e faz o que tem que ser feito. Dê o seu melhor”.

Trabalhei voluntariamente por um ano na Empresa Júnior da faculdade , depois de encarar um processo seletivo grande, já que havia bastante gente interessada em fazer o mesmo: trabalhar de graça para aprender! Vendi muita trufa para conseguir algum dinheiro nesse período. As distâncias entre minha casa no ABC e os locais onde trabalhei enquanto estudava nunca foram menores de 25km. De lá, ia para a faculdade, em Pinheiros. E, então, voltava mais 23km para, exausta, dormir logo. No dia seguinte tinha mais.

O mercado publicitário é ingrato e, como havia escolhido atuar nele, precisava me comprometer. Para mim, era o mínimo. Via meus colegas da faculdade fazendo o mesmo. Todo mundo queria sugar o máximo possível de cada experiência.

Mesmo assim, certo dia, um chefe me disse que não podia me dar a autonomia que eu estava lhe pedindo, porque eu não estava presente no horário em que “as coisas aconteciam” na agência. Indignada por me dedicar tanto e ter de ouvir aquilo, perguntei-lhe quando era que as coisas aconteciam.

– Na hora do almoço e depois do expediente, ué.

Comecei a perder almoços e aulas, por opção. Para conquistar a autonomia que, para mim, era importante. Claro que não aguentei muito tempo, porque vida assim não é sustentável e muito menos feliz. Mas meu comprometimento e minha vontade de crescer eram tão grandes que me submeti até a esse tipo de pressão inescrupulosa. Sem reclamar. Sem chorar pro papai.

Tudo isso para dizer que não me conformo quando um Centennial candidato a estágio, hoje, valoriza mais a distância entre sua casa e o trabalho que o seu potencial de aprendizado e crescimento naquela vaga. Simplesmente não entra na minha cabeça que, numa luta quase injusta entre comodismo e oportunidade, o primeiro saia ganhando e a segunda seja jogada no LI-XO.

Estão na fase da vida em que o mais importante deveriam ser as experiências, os aprendizados, as trocas! Mas, como velhos sedentários agonizantes, optam pelo que lhes é mais conveniente. É como pegar um táxi para ir à padaria na esquina. Percebe?

Eles podem. Podem escolher entre graduar-se em Gastronomia, Cinema, Multimeios, ou largar toda essa bobagem escravagista de trabalhar como empregado e abrir seu próprio negócio. Porque, hoje, bonito é empreender. Ou, então, virar Youtuber. Não conseguem entender que há pouquíssimo tempo a quantidade de opções (para os que podiam dar-se ao luxo de escolher) eram infinitamente menores. Coisa de velho, essa limitação. Hoje o mundo é plural, brow.

Dentre estagiar numa multinacional consolidada longe de casa ou numa startup trendy aberta pelo Zé Sei Lá perto da asa da mamãe, preferirão a segunda opção. E a deixarão em menos de 6 meses por um vale-sushi a mais (acho que vale-coxinha é um termo que não entendem) oferecido pela empresa do Mané Talvez, só porque os permite trabalhar de bermuda em um lounge com uma mesa de ping-pong que eles não fazem ideia de como usar.

Eles têm. E, talvez por isso, buscam tudo que é pertencente à triste zona de conforto. São bombardeados por gente que lhes diz que podem ser o que quiserem – e devem poder, mesmo.

Pergunto-me, porém, se eles sabem O QUE querem SER. 

Garotos e garotas da Geração Z curtem, em essência, zapear. Pulam de galho em galho, de emprego em emprego, de relacionamento em relacionamento, com um desapego digno de quem não tem nada a perder. Parece que aprenderam desde crianças que tudo vem fácil: a informação está à disposição, a conectividade também, assim como as versões mais novas de seus celulares descartáveis.

Sinto uma “quase dor” ao observar jovens com tanto potencial e tão pouca gana. Uma semi-passividade diante da vida pulsante ao seu redor. Não devem ser todos. Espero que não.

Sabe o que me consola? Daqui a muito pouco eles vão olhar para os Tweens* (a geração dos pré-adolescentes de hoje) e se sentir jurássicos. Rá.

* O termo Tween caracteriza meninos e meninas nascidos depois do ano 2000,  que hoje são pré-adolescentes: uma mistura de teens (adolescente, em inglês) e between (no meio de).