Bom, primeiro preciso confessar uma coisa: não sou da turma dos “trinta e umas”. Sou da turma dos trinta e muitos – 30 e mais 32, para ser exata.

Tenho 62 anos (se estamos em 2016 é isso, se não, é só fazer a conta), mas ainda me sinto como se tivesse 30 e poucos. Apesar de uma dor ou outra, o corpo já não tão flexível, não tenho do que me queixar. Tanto que me foi permitido compartilhar este espaço com vocês, que são contemporâneos dos meus filhos.

Mas a verdade verdadeira é que nem mesmo com 30 e poucos eu me sinto. Porque há pouco mais de dois ou três anos, inaugurei uma vida nova.

Eu explico: desde criança alfabetizada eu escrevo. Tirava notas boas nas redações, acreditei nos meus professores e fiz disso a minha profissão. Comecei pelos textos curtos, os publicitários. Exercitei também o dom da síntese, ao passar a contar (e vender) uma ideia em parcos 30 ou 15 segundos de um comercial de TV. Depois me esparramei em textos longos, que preenchiam páginas de revistas. Sempre fui boa em cortar, em editar o texto até fazê-lo caber na medida que a tirania dos diretores de arte e diagramadores de então (hoje designers) nos impunham. (Li este texto e fui cortando várias palavrinhas das quais você não sentiu a menor falta).

Mas, num belo dia, antes de completar meus 60, perdi o meu emprego, minha mãe adoeceu, a vida deu uma bela capotada e, sem notar, comecei a pintar. Eu, que nunca tinha desenhado direito nem casinha com fumaça saindo pela chaminé. Sim, porque hoje pinto como criança, com o dedo na tela do tablet.

Comecei como passatempo, como válvula de escape. Fui postando os resultados, as pessoas foram gostando e passei a levar isso a sério. Começava ali a minha nova vida.

Ainda estou engatinhando, longe de andar com desenvoltura. Achei que seria útil contar isso a vocês, porque um dia, se se cuidarem direitinho e tiverem uma certa dose de sorte, também chegarão aos 30 e tantos! E, quem sabe, também queiram, ou precisem, reaprender a andar.

Infelizmente não tenho receita para passar. Ou será que tenho?

Talvez algumas poucas reflexões.

A primeira é a de fazer tudo o que você tiver de fazer do melhor jeito que conseguir. Faça sempre como se fosse exclusivamente para você. Capriche, se empenhe, veja se não dá para melhorar. Não faça para o chefe ou em troca do dinheiro. Os chefes se vão, o dinheiro também, mas o que você aprender fazendo bem-feito, ah! Isso fica para você para o resto da sua vida. E ninguém te tira!

Outra coisa: experimente fazer coisas que nunca fez antes. Vai que você descobre um gosto novo, uma habilidade, um talento, não é mesmo? E, importantíssimo: tire um tempo para não fazer absolutamente nada. Isso! Para ficar bestando, ócio total. Parece que o cérebro precisa disso para “restartar”, eu acho.

Por último, uma coisa que acho beeeem difícil aos 30 e poucos – na verdade, é difícil desde os 12 ou 13: não tenha medo do ridículo, do erro. Não quero dizer com isso que você deva sair azarando por aí, cometendo as maiores barbaridades. Não é isso.

Falo de ousadia responsável. Sustentável (está na moda ainda?). Para falar o que pensa. Para vestir o que gosta. Para não concordar só para agradar o outro. Para experimentar de outro jeito. Para se calar quando todos parecem ter encontrado a verdade absoluta. Para se expor sem receio do juízo alheio. Para cair, engatinhar e voltar a andar.

 

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